Petrópolis (RJ) – Dando sequência ao Curso de Extensão “A Palavra de Deus na Vida e na Missão da Igreja, discorreu-se, no terceiro encontro do curso (30/08), a respeito da Formação do Cânon do Antigo Testamento da Bíblia Cristã. Frei Antônio Everaldo P. Marinho* e Frei Douglas Paulo Machado* apresentaram de que forma a estrutura da Bíblia Judaica, tema do encontro anterior, foi adaptada para a formação do cânon do Primeiro Testamento da Bíblia Cristã.
Sabe-se que para os judeus, a Bíblia está dividida em três grandes blocos: a Torá, os Profetas e os Escritos. No Antigo Testamento Cristão, esses livros, 39 ao todo, estão reestruturados em quatro partes: o Pentateuco, os Livros Históricos, os Livros Sapienciais e os Livros Proféticos. Com exceção do primeiro, houve alterações em todos os blocos. A sequência, portanto, dos livros do Antigo Testamento da Bíblia Cristã é diferente dos da Bíblia Judaica.
Entre os cristãos também há diferença em relação ao cânon do Antigo Testamento. Os Evangélicos, em geral, possuem os mesmos 39 livros da Bíblia Judaica, mas em outra ordem, a mesma da Bíblia Católica. A Igreja Católica, por sua vez, considera mais 7 livros também divinamente inspirados, os chamados deuterocanônicos: Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico, Baruc, 1Macabeus e 2Macabeus. Alguns desses livros foram escritos em grego, outros, embora escritos em outra língua, só se conservaram em língua grega. Além desses livros, há alguns acréscimos, também em grego, nos livros de Ester e Daniel. Outra diferença nas Bíblias Católicas e Evangélicas é o Livro de Jó, considerado livro Sapiencial, no caso de católicos, e livro Histórico, no caso dos evangélicos.
O processo de formação do cânon da Bíblia Judaica encontra-se quase completamente ultimado em meados do século II aC., porém a lista definitiva não se estabelece senão nos finais do século II dC. Já o estabelecimento do cânon cristão do Antigo Testamento ocorreu num período tardio, no século VI dC. É inegável que o Cristianismo tenha surgido no interior do Judaísmo, pois Jesus de Nazaré era filho do povo judeu, tal como eram os doze que ele escolheu como apóstolos. No início, a pregação apostólica se dirigia somente aos judeus e prosélitos, pagãos associados à comunidade judaica. O Cristianismo nasceu, portanto, no interior do Judaísmo. Depois foi progressivamente se separando, mas a Igreja não pôde jamais esquecer as suas raízes judaicas, claramente atestadas em várias passagens do Novo Testamento. Como que uma abertura do Novo Testamento, no último livro do Antigo Testamento, Malaquias, na visão cristã, profetiza a vinda de João Batista: “Eu vou enviar o meu mensageiro para que prepare um caminho diante de mim” (Ml 3,1).
* Frei Antônio Everaldo P. Marinho é doutor em Exegese Bíblica e professor de Sagrada Escritura na Faculdade de Teologia – ITF.
* Frei Douglas Paulo Machado é frade franciscano, graduado em Filosofia e estudante do Curso de Teologia – ITF.