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Células-tronco: Pesquisador apresenta esclarecimentos a estudantes do ITF


 
 
 
Luogo:
Data: 29/03/2010
 
PUA

 

Por Frei Gustavo Medella

 

 

Petrópolis (RJ) - “Células-tronco: desafios éticos”. Este foi o título da aula proferida pelo Professor Radovan Borojevic, docente e pesquisador de ponta do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) aos alunos da Disciplina Teologia Moral: Bioética no Instituto Teológico Franciscano (ITF). Professor Radovan é Diretor do Centro de Pesquisa Excellion, localizado em Petrópolis e o único laboratório do Brasil com certificação e autorização para o manejo de células-tronco humanas com finalidade terapêutica.

Em sua exposição, o professor apresentou a lógica e o princípio do trabalho de pesquisa que envolve a manipulação de células-tronco, abordando as seguintes temáticas:

Distinção entre Genética e Genômica
Professor Radovan fez a distinção entre a abordagem própria da Genética, um estudo analítico, mais linear, e a maneira de proceder própria da Genômica, que se distingue como uma abordagem sintética, preocupada em compreender mais profundamente a lógica e o sentido do Genoma.

A complexidade dos organismos exige do pesquisador uma postura de humildade
Já no início da apresentação, Professor Radovan destacou que a humildade é uma postura necessária ao pesquisador: “A previsibilidade dos fenômenos biológicos é algo fugaz, e por isso precisamos ter esta consciência na lida com estes fenômenos”. De acordo com o professor, a grande dificuldade da ciência para compreender as dinâmicas biológicas é o fato de que a função de uma estrutura superior não corresponde apenas ao somatório das subunidades que a compõem: “O somatória das moléculas não descreve integralmente as células, assim como o somatório das células não consegue descrever integralmente o corpo. É preciso que se leve em conta as interações que se estabelecem entre as diversas partes”, explicou.

O risco da utilização de células-tronco embrionárias
A partir das categorias de tempo-espaço e integração-interação, o pesquisador apresentou os principais momentos do que ele denominou “criação e desenvolvimento” do ser vivo. Na opinião do Professor Radovan, a fecundação seria um momento de criação, de início de uma nova vida. Ao apresentar o processo de desenvolvimento e proliferação das células que darão origem a uma nova vida, explicou de que forma as células se subdividem e a maneira através da qual elas adquirem suas especializações. “Em todos este processo, há um trabalho de troca de informações entre estas diferentes células, que se dá em um contexto espacial e temporal próprio para o desenvolvimento das diferentes especificidades”, destacou.
A partir desta explicação, de acordo com o estudioso, pode-se compreender o risco que representa a utilização das células-tronco embrionárias para fins de tratamento. “De fato, as células internas do embrião têm potencial para se transformar em qualquer célula específica do corpo. A grande dificuldade é que, por não terem atravessado todos os processos que aquelas células ‘originais’ atravessaram e não carregarem a devida carga de informações, elas podem dar origem a problemas e deformidades diversas”, destacou. Para exemplificar, Professor Radovan citou o caso dos transplantes realizados atualmente. “No transplante, por causa da falta de reconhecimento do organismo daquele órgão que é implantado, o paciente transplantado necessita passar por um tratamento contra a rejeição durante toda a sua vida”. Questionado pelos alunos, o professor declarou que, por motivos de convicções pessoais e pelo que sua experiência de pesquisador lhe mostrou, ele não maneja células-tronco embrionárias.

A aplicação das células-tronco adultas
Com relação às células-tronco adultas, segundo o professor, a compreensão é outra, pois elas se localizam no interior da medula óssea e já têm como função executar no organismo uma operação reparadora. “No caso dos vasos cardíacos, por exemplo, estas células, ao circular pelo organismo, são capazes de receber informações de traumas nos vasos do coração, por exemplo e, a partir deste dado, naturalmente assumem um papel reparador”, explicou. Neste caso, a terapia com células-tronco adultas consistiria, então, na manipulação deste material e de sua injeção em determinada parte do corpo afetada para que elas possam propiciar a cura. O professor recordou que estes procedimentos ainda estão sendo realizados de forma experimental e que, respeitando todos os passos inerentes a este tipo de pesquisa, devem estar à disposição da população em um prazo que pode variar entre cinco e dez anos, aproximadamente.
Durante toda a explanação, Professor Radovan se demonstrou solícito à participação dos estudantes. O encontro com o pesquisador proporcionou à toda turma uma oportunidade ímpar na aquisição de informações fundamentais ao desenvolvimento do senso crítico diante destas questões atualíssimas, que  recorrentemente aparecem nos âmbitos acadêmico, pastoral e em muitos outros ambientes.
De acordo com o Professor de Teologia Moral do ITF, Frei Antônio Moser, as discussões em torno da Bioética trazem uma contribuição fundamental à reflexão teológica, e permitem a ela um diálogo franco e aberto com as grandes questões que permeiam o saber no século XXI. “Nossa proposta aqui é construir o conhecimento coletivamente. Eu, na qualidade do professor, tenho o papel de despertar nos alunos o empenho e o interesse no estudo por esta área que está cada vez mais em evidência nos nossos tempos”, destacou Frei Moser.
Há 15 dias, o mesmo Frei Moser deu aula nas escadarias do Hotel Quitandinha, estando os estudantes contemplando as águas do lago, o que criou um clima propício para despertar o interesse geral dos alunos. Logo em seguida, todos tiveram a chance de visitar a exposição “Revolução Genômica”, numa visita guiada que durou quase duas horas. De acordo com o professor, todas estas iniciativas têm por objetivo “levar os alunos a mergulhar mais a fundo nas grandes questões de hoje”. Para definir a repercussão da dinâmica das aulas entre a turma, Frei Moser lança mão de uma gíria comum entre a juventude: “Como se vê, o curso de Bioética está bombando!”, arremata.





 
 
 
 
 
 
 
 
 
  
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