Por Delir Brunelli, cf
Desde março até outubro, foram oito meses de estudo e pesquisa, partilha de experiências e avaliação de práticas de evangelização. O aprofundamento sobre os cenários contemporâneos acrescentou novas questões às muitas que já povoavam a mente e o coração dos participantes do Master 2010. Se a busca de luz nas disciplinas de caráter bíblico, teológico, histórico e franciscano não foi suficiente para fornecer respostas imediatas, ajudou a melhor formular as perguntas e a ampliar o horizonte no qual elas se situam, desafiando a não dar o processo por encerrado.
Os temas de algumas monografias mostram aspectos importantes da reflexão desenvolvida pela turma do Master 2010: a fundamentação bíblica da missão; a evangelização inclusiva pela leitura popular da Bíblia; o protagonismo de todos os batizados/as na vida e missão das comunidades eclesiais; a espiritualidade como força que dinamiza a vida cristã; o desafio do modo franciscano de evangelizar. Algumas ideias, colhidas nas próprias monografias, permitem apreciar aspectos da riqueza dessa reflexão.
* No Evangelho de Mateus são encontrados preciosos elementos que trazem luz para a igreja atual, em sua tarefa evangelizadora. Um deles é a universalidade da ação missionária de Jesus. Se no início ele envia discípulos à casa de Israel (Mt 15,24), no final esse envio se estende a todos os povos e nações (Mt 28,19), com a abertura necessária para acolher o diferente, com a ação do Espírito do Ressuscitado. Em Mateus, Jesus cumpre as promessas feitas a Israel.
Isso, no entanto, não impede que rompa esquemas tradicionais injustos e preconceituosos, com audácia e criatividade proféticas. A centralidade do Reino de Deus como boa notícia e a insistência no discipulado, assumido com gratuidade, coragem e confiança, marcam a proposta de Mateus também para os dias de hoje.
* Em década passadas, a leitura popular da Bíblia foi um excelente meio de evangelização, contribuindo de maneira significativa para a formação do povo, a organização das comunidades e a práxis libertadora dos pobres na América Latina. A grande pergunta que hoje se faz é se ela continua respondendo aos desafios que são postos ao anúncio do Evangelho, diante da mudança de paradigmas e cenários, em especial diante da globalização neoliberal. A necessidade de uma evangelização de inclusão obriga a rever metodologia e linguagem, para que a leitura popular da Bíblia não perca sua força evangelizadora.
*A consciência de que a vocação batismal inclui o discipulado missionário cresceu na Igreja a partir do Concílio Vaticano II e recebeu ênfase nas Conferências Latino-Americanas. Mas a herança de uma evangelização centrada no clero ainda está presente em muitas comunidades, fazendo com que batizados e batizadas tornem-se indiferentes à missão eclesial ou dela sejam excluídos. Nesse contexto, torna-se necessário resgatar a eclesiologia conciliar, acentuando a ministerialidade de toda a Igreja. As Comunidades Eclesiais de Base, nascidas do sopro renovador do Espírito em nossa realidade, constituem uma viva expressão desta eclesiologia e encerram uma grande força evangelizadora.
* O interesse pela espiritualidade voltou a crescer nos últimos tempos e sua importância na ação evangelizadora é reconhecida. Mas não se trata de qualquer espiritualidade. Diante das muitas expressões hodiernas, faz-se necessário discernimento, buscando uma espiritualidade que seja coerente com o Evangelho, no seguimento de Jesus e sob o impulso do seu Espírito. A espiritualidade de Jesus é libertadora, envolve toda a pessoa e integra as diferentes dimensões humanas. É também operante e dinamiza toda a sua vida, dando sentido às palavras, gestos e ações que tornam concreto e histórico o Reino de Deus.
* Embora a evangelização seja tarefa de toda a Igreja, existe um modo franciscano de realizá-la. A sintonia com os desafios do seu tempo e a capacidade de oferecer alternativas a partir da escuta do Evangelho constituem a originalidade do carisma franciscano. Mas no decorrer da história muito se perdeu da chama profética das origens. Os esforços de fidelidade criativa, ao longo da história, foram assumidos muito mais por pessoas do que pelas instituições, que continuam conservadoras. Esse é um desafio a ser hoje enfrentado. Na realidade atual, voltar às origens significa encontrar formas novas de presença evangelizadora numa realidade excludente, onde a própria vida do planeta se encontra ameaçada. Não há dúvidas de que o sonho de Francisco e de seus primeiros irmãos continua vivo e transparece nas muitas formas de profecia, sobretudo nas lutas dos pobres e de seus aliados, onde se teima em acreditar que outro mundo é possível. Dessa forma, o mesmo Espírito que agiu em Francisco continua a nos interpelar, provocar e convocar, esperando de nós, herdeiros e herdeiras de seu carisma, respostas mais coerentes e audaciosas.
Avaliando os resultados obtidos nesses dois anos, pode-se dizer que o Master em Evangelização está atingindo seus objetivos. Oferece a oportunidade de uma reflexão sistemática sobre a prática evangelizadora, em nosso contexto latino-americano, com ênfase na perspectiva evangélico-franciscana. Favorece a compreensão dos cenários contemporâneos com seus desafios e possibilidades para a evangelização. Contribui de maneira significativa para qualificar as práticas evangelizadoras ou missionárias e ajuda a discernir itinerários alternativos.
O Master em Evangelização é uma sementeira de onde podem brotar saborosos frutos. Mas nem todas as sementes germinam logo. Algumas são fecundadas no chão da vida, lá no meio do povo, onde cada um/a continua realizando sua missão.
As inscrições para o Master em Evangelização 2011 estão abertas.
Espera-se que muitos outros evangelizadores e evangelizadoras – religiosos/as, leigos/as, presbíteros – do Brasil e também de outros países, possam aproveitar desta iniciativa.
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