Por Frei Alexandre Verardi, OFM
Dia: 05/04, das 19h30 às 22h.
Palestra: O sentido da fé para a saúde.
Palestrante: Frei Celso Márcio Teixeira (Teólogo Espiritual)
Utilizando uma metodologia dialogal, Frei Celso foi “costurando” sua exposição a partir das respostas apresentadas pela assembleia. Como pano de fundo estiveram as seguintes questões: É possível falar de espiritualidade da saúde? É possível estabelecer um nexo entre uma e outra? Para que estas questões fossem respondidas, precisamos, todavia, abordar os conceitos básicos da espiritualidade: O que é espiritualidade? O que é fé?
A participação da assembleia foi unânime no “descortinar” desses pressupostos básicos. No que tange à espiritualidade, esta deve ser compreendida como uma maneira humana de interagir, de ser, de viver, de lidar, de pensar, de relacionar-se, de compreender a vida. A espiritualidade se desenvolve por meio da harmonia da alma e do corpo. Com essa sensibilidade, percebe-se que a espiritualidade sempre pode unir as pessoas. Os elementos da união são: amor, misericórdia, solidariedade, compaixão, sensibilidade, perdão etc. Por meio destes elementos, o ser humano é espiritual, ou seja, possui uma espiritualidade. A espiritualidade independe da religião. A pessoa até pode não ter religião, mas tem espiritualidade.
O mesmo acontece com a segunda pergunta: O que é fé? Não é apenas um saber que Deus existe, não é aceitar dogmas, não é uma espécie de conhecimento, não nos dá nenhuma certeza absoluta. A fé está na ordem do coração, do sentimento, do amor, da misericórdia, do perdão. Essas qualidades acontecem sem uma explicação do intelecto, pois a fé não tem a pretensão de explicar os fenômenos naturais, essa função é da ciência; a fé apenas tem a intenção de dar o sentido da vida. Com isso, a fé é aceitar uma relação que nos é proposta por Deus.
Para tanto, a espiritualidade assume forma dentro da corporeidade de cada indivíduo. Mas como fica a questão “espírito e corpo”? São realidades opostas? Frei Celso nos lembrou a história do cristianismo, que apresentava a espiritualidade em contraposição ao corpo. Neste contexto, o corpo não merecia cuidados, mas castigos, penitências, jejuns, macerações. Ao longo da história do cristianismo, tais penitências foram consideradas sinônimo de santidade. E o tabu da sexualidade? Sexo era algo do demônio. A vida religiosa ajudou muito para divulgar esse caminho depreciativo da sexualidade, criando costumes opostos a uma vida saudável. Para exemplificar que essas questões são ainda vigentes em nossos dias, lembrou-se a acerba crítica ao cristianismo feita pelo filósofo Nietzsche:
“A noção de Deus foi inventada como antítese da vida – nela se resume, numa unidade aterradora, tudo o que é nocivo, venenoso, caluniador, todo o ódio da vida. A noção de ‘além’, de um mundo verdadeiro, só foi inventada para depreciar o único modo que há, a fim de não mais conservar para nossa realidade terrestre nenhum objetivo, nenhuma razão, nenhuma tarefa! A noção de alma, de espírito e, no fim das contas, mesmo da alma imortal, foi inventada para desprezar o corpo, para torná-lo doente – sagrado –, para conferir a todas as coisas que merecem seriedade na vida – as questões de alimentação, de moradia, de regime intelectual, os cuidado aos doentes, a limpeza, o clima – a mais aterradora indiferença! Em vez de saúde, a salvação da alma, isto é, uma loucura circular que vai das convulsões da penitência à histeria da redenção! A noção de pecado foi inventada ao mesmo tempo que o instrumento de tortura que a completa; a noção de livre-arbítrio, para confundir os instintos, para fazer da desconfiança com relação aos instintos uma segunda natureza”.
Essa compreensão negativa do corpo não vem da Bíblia, que, ao contrário, afirma que o corpo é bom, é imagem e semelhança de Deus, é morada (templo) de Deus. Esta nefasta compreensão provém do neoplatonismo, que influenciou o cristianismo até nos dias hodiernos. Para que a saúde faça parte da busca do humano, precisamos entender que Espírito e corpo são caminhos para uma espiritualidade da saúde. E o próprio Deus quis se fazer corporeidade por meio da encarnação de Jesus Cristo. Portanto, entendemos que na manifestação de Deus há o respeito pelas duas liberdades, ou seja, a liberdade do ser humano com a liberdade de Deus. Essa liberdade se transforma em relação que pode ser rompida, mas da parte de Deus nunca há um fechamento.
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