Por Frei Rodrigo S. Santos, OFM
Aconteceu ontem, dia 14/04, a 1ª Noite Cultural da Faculdade de Teologia – ITF. O tema escolhido tinha sido: "Nosso Mundo, Nosso Lar", em consonância com a Campanha da Fraternidade deste ano, o que certamente contribuiu para o grande número de participantes: cerca de 150.
O Reitor do Instituto, Frei Sandro Roberto, com breves palavras acolheu a todos; Frei Everaldo, coordenando a noite, introduziu o tema; Frei Clauzemir apresentou os dois palestrantes convidados: Dr. Pedro Leite da Silva Dias e Frei Antônio Moser:
"Clima e Sociedade"
Dr. Pedro se dedicou a apresentar a influência do clima sobre a sociedade e desta sobre o clima. Ele deixou claro desde o início que a ação humana não é a única determinante do clima. Percorrendo a história do planeta, demonstrou como as alterações climáticas provocaram movimento e desenvolvimento da vida como um todo e do ser humano em particular. Essas alterações, como pequenas mudanças na órbita do planeta ou da inclinação de seu eixo, bem como variações na emissão de energia solar, provocaram gigantescas mudanças no clima. Outras alterações, que podemos atribuir a causas naturais, ou seja, próprias do planeta terra, como a atividade vulcânica, também influíram e influem em mudanças climáticas, embora em menor escala que as anteriormente indicadas.
Também a história da humanidade foi marcada pelas alterações climáticas. É bem possível que a narração bíblica do dilúvio, como outras narrativas semelhantes, tenha como pano de fundo transformações ocorridas a cerca de 12 mil anos, provocadas pelo derretimento do gelo no norte da América do Norte e pelo rompimento das barreiras que continham as águas represadas da região hoje conhecida como a dos Grandes Lagos dos EUA. Por sua vez, este evento desencadeou uma série de outros fenômenos climáticos, atingindo, entre outras, a bacia do Mediterrâneo. Épocas de maior resfriamento podem ter provocado o fim dos Vikings e a queda de dinastias orientais; o aquecimento verificado no período medieval, o incremento da agricultura e de atividades sócio-culturais na Europa daquela época.
Por seu turno, também a ação do homem tem seu impacto sobre o clima. Além da atividade de queimadas, de longa data e de efeito comprovado, particularmente nos últimos 50 anos, devido a uma série de fatores, lança-se na atmosfera o petróleo queimado que levou 150 mil anos para se formar no interior do planeta. Eis uma das principais causas do aquecimento global! Porém, um dado esperançoso: o aquecimento do planeta tem provocado discussões e preocupações, que estão cada vez mais presentes no cotidiano das pessoas. Congressos internacionais estudam os desafios teóricos de um resgate do planeta, em vista de um desenvolvimento sustentável, ou seja, que promova segurança ambiental internacional. Para o Dr. Pedro, que se julga otimista, medidas concretas em vista desta finalidade ainda levarão alguns anos para serem estabelecidas e implementadas. Mas, enquanto isso e sempre, embora lidando com incertezas, o ser humano é chamado ao gerenciamento climático, na proporção em que este dele depende.
"Gemidos da Terra: desafios éticos"
Frei Antônio Moser, a partir de seus estudos e de suas abordagens já publicadas sobre o tema, apresentou a ecologia em perspectiva ética. Lembrou a crescente preocupação da Igreja com o tema no decorrer dos últimos anos.
Para desenvolver um modo de agir e viver que promova o cultivo e o cuidado com a vida no seu todo, faz-se necessário dar ouvidos aos gritos da terra, perguntar-se qual o verdadeiro lugar do ser humano neste mundo que existe independente dele. O avanço tecnológico facilmente confere uma sensação de poder, mas basta um evento natural como o tzunami japonês ou as chuvas na Serra Fluminense para perceber como o ser humano é pequeno, pouco poderoso diante do poder da natureza e do universo.
Contudo, cabe a ele administrar a Criação, como afirma o Gênesis! Ser senhor dela, não em perspectiva dominadora, pragmática, que vê na Criação apenas uma fonte de lucro ou benefício próprio e manifestando incapacidade de mergulhar em seu sentido profundo, teológico. Cuidar da natureza, em seu sentido mais abrangente, também da humana portanto, é administrar com carinho, respeito e sabedoria, percebendo nela os sinais da presença de Deus.
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